Sunday, December 02, 2012

Homo Simbolicus










taxiando o desconforto
ela me atinge
tipo de terrorismo sutil

reconto dividas
no silencio quase absoluto
culpo a culpa
a violencia urbana
o cálice de vinho do Porto

culpo a mim
a música distante
a maça podre
os gafanhotos do antigo Egito
o enxame de abelhas africanas

não tenho como sorrir do destino

noto a pulseira dourada em seu pulso
e a fita verde que avisa soluções para tudo

o relógio, a espada e a cruz submetem  pessoas
são  palavras servis - servindo a mesa abastada

prefiro a oração comedida - improvisada
pois os servos procuram Reis e Rainhas
que não sabem silenciar sozinhos

não tenho como beber no oásis que descortina
pois meus bolsos estão plenos de tua sede

 e livres de tua vontade



Sunday, October 14, 2012

o aceno do ribeirinho

dias estranhos
na palma da mão
soprados em beijos sutis
como palavras aranhas tecendo paredes

viajam invisíveis na rosa-do-vento
adormecida na superfície do rio

o rio,
a vara fincada por quem?

balança  nervosa
pesadelos

o rio me diz de destino
e a criança em mim
sente medo

o olhar ralha
adormecido, tristonho
seguindo da popa
o aceno da vida
agora ligeira

mesmo sabendo
que o ritmo que finca

habita a margem
agora contendo
segredos

Monday, October 01, 2012

O Grupo Fundo de Gaveta participou do Encontro de Escritores Paraenses, na tarde desta quinta-feira (27), no auditório Dalcídio Jurandir, durante a programação da XVI Feira Pan-Amazônica do Livro. Na ocasião, a turma composta por Zéminino, Vasco Cavalcante, Jorge Eiró, Celso Eluan, Iru Bezerra e William Silva (Paulo Castro), relembrou e contou para o público presente a trajetória da equipe de escritores, que completou 30 anos de trabalho no ano passado.
“Nós surgimos nos anos 80, na época do saudosismo. Tínhamos muita energia para gastar e resolvemos gastar toda essa energia estudando, lendo e fazendo poesia. Criamos um grupo poeticamente pesado”, disse o artista plástico Jorge Eiró. Ele contou ainda que o Fundo de Gaveta fez parte de um tempo em que havia na cidade um movimento cultural em ebulição, com a movimentação de bares antigos e o início das oficinas de Miguel Chikaoka. O grupo se reunia semanalmente para ler e discutir, poesias, artes plásticas, novos lançamentos e etc.
Depois da experiência cada um foi tomando seu rumo, mas, para Vasco Cavalcante, até hoje o grupo permanece. “Fazer poesia todos nós fazemos em algum momento. A poesia é a única coisa que pode responder o questionamento de ser ou não ser. Então, a sensação que temos é que o Fundo de Gaveta ainda está vivo, mesmo que seja na memória”, completou.
A primeira edição do Fundo de Gaveta foi feita em 1981. Com os eventos realizados pelo grupo, padrinhos e diversas coletas saíram os recursos para o projeto que fez com que os trabalhos literários virassem páginas de livros. “Fizemos o lançamento na Casa do Choro e as coisas fugiram ao controle. Havia os varais de poesia na praça do Carmo e na praça da República. Saía-mos com os envelopes debaixo do braço e a edição era graficamente tímida, até pelos poucos recursos", contou Eiró, um dos responsáveis pela produção gráfica da publicação.
Eles também relembraram a participação do “Movimento Açaí”, uma época em que a sociedade paraense tinha vontade de mostrar, falar e agir de uma forma que não podia ser feita no período da ditadura. “O que sai do Fundo de Gaveta é a vontade de poder se expressar”, enfatizou Celso Eluan.
Quem esteve na platéia pode conhecer um pouco mais do grupo e relembrar cenas da Belém nos anos 80. “Gostei muito de participar desse encontro porque acabei lembrando de coisas muito boas que vivemos nos anos 80. Naquela época, as pessoas, mesmo com medo da ditadura, parece que se expressavam mais e lutavam mais pelos nossos direitos de cidadania”, afirmou a assistente social Lizandra Soares.
Nesta sexta-feira (28), quem estará no Escritores Paraenses é a historiadora e artista visual Josette Lassance e a médica Jacqueline Darwich, às 17h30. Após a conversa com o público, elas autografam, respectivamente, as obras “Os cinco felizes”, “Imagens” e “O anjo nu”. A programação é aberta para todo o público da Feira, com entrada gratuita.


Texto:
Bruna Campos - Secom

Monday, September 24, 2012

a mensagem



alíneas
roxas
acenam para o azul
abelhas escrevem textos
aguas deslizam sobre seixos
e sob camas de folhas
na qual cubro os olhos
e firo teu sexo

brotam palavras esvernizadas
contas de terços poídos (o descaso)

amanhã talvez encontremos
razões perfumadas - velozes

vozes aprisionadas, pequenos cofres
envelopes coloridos

não será preciso
abri-los

abra você
seus sentidos
como roupas sujas
lançadas aos cestos
(incestos)

travesseiros
armadilhas

pré-textos

Tuesday, August 07, 2012

ilha da armadilha

na ilha
da armadilha

o silencio
é a primeira cilada

a prisão
que alimenta fios de músculos e ossos
poças de olhos

bolhas de óleos  presas

a prisão
arquiva  teu fígado,
pulmões, sobrancelhas
unhas com hematomas

aprisiona a tua fúria,
a rude palavra

no arcabouço
de tua fé-desdita

a prisão
debruça,
sobre fogueiras que queimam
a tua alma faminta-pequenina.
a liberdade aflita

na ilha,
a alma
sucumbe,
muitas das vezes
a um soco no estomago

a um beijo
de outra prisão,
talvez um doce aceno.
de sombras sobras
ácidas

uma gota de veneno
na tarde ensolarada
perfeita, agonizante

na ilha - o silencio
o meu          o teu 


oceano ...





Saturday, June 30, 2012

O filho da poetisa com o vaqueiro de cartola

o menino
confortavelmente
monta seu cavalo
de miriti

Galopa
conexões
de  rios afluentes
e campos que se perdem
no vazio da fartura

alimenta-se
do riso incontido
sorvendo
cada segundo dos ontem
adormecidos na sala

a poltrona aconchegante
amplia o pequeno aposento
há estrelas brilhando
no céu da memória

o menino
dorme,
percorrendo ruas infinitas

em alguma destas ruas
um vaqueiro de cartola e fraque
assovia uma canção noturna
o cavalo castanho garboso - relincha

parece uma noite
na ilha de bufalos sonolentos
que ensinam a oração paciente
sem pressa

da brisa roçando a alma

A poetisa segue
saltitante
declamando um poema
que diz de fumaça
saindo de um cigarro

O vaqueiro, de  mãos e dedos longos
segura as rédeas do tempo
os dois estão felizes

ainda bem...

neste instante
o menino tateia sonhos
e rios ribeirinhos

balbuciando palavras
que saem pelo canto da boca
feito borboletas azuis

ainda bem...






Saturday, April 28, 2012


MONSOON
at the beginning, middle and end
on the one endless stowage
shrouded by rain
constant in the morning

or afternoon?

inhabiting

face to face
truth and falsehood

all hours ...
a smile to another
 to play  pyre of cowshed

sometimes
go hand in hand
wordless
without passports

no earrings and bracelets
without the carmine lipstick

only at a ring
hidden in the palm of your hand

there is no border
preventing
the dance of seduction
why offer their skills
(in) perfect, past tenses

sometimes confuse
Like the rare calm complexion
by human traits

are like Trojan horses
appear in the garden at night
and remain
unexpectedly
fast in dreams
and vanilla ice cream
in the summer sun

die for them
prepared traps
killed

poisoned rivers
contained in the silence
prisoner of recent lessons
sheets soaked in divine

are friends
male
female

through the open doors

by
princesses
beggars

coastal roads
surrounding life

life
life

eager
ladies
impulsively living

Thursday, April 05, 2012

monção

no inicio, meio e fim
sobre aquela estiva infinita
encoberta pela chuva
incessante da manhã

ou da tarde?

habitam

frente a frente
a verdade e a mentira

todas as horas...
sorriem uma para outra
brincam de pira maromba

algumas vezes
caminham de mãos dadas
sem palavras
sem passaportes

sem brincos e pulseiras
sem o batom carmim

apenas com um anel
escondido na palma da mão

não ha fronteiras
que impeçam
a dança da sedução
pela qual oferecem seus dotes
(im)perfeitos, pretéritos

algumas vezes confundem
pela rara semelhança da tez serena
pelos traços humanos

são como cavalos de troia
aparecem no jardim pela noite
e assim permanecem
inesperadamente
em sonhos velozes
como sorvete de baunilha
no sol de verão

por elas morremos
seduzimos
matamos

envenenamos rios
no silencio contido
prisioneiro de lições recentes
embebidas em lençóis divinos

são amigas
macho
fêmea

pelas portas abertas

por
princesas
mendigas

estradas litorâneas
que circundam a vida

a vida
a vida

ávidas
divas
impulsivamente vivas

Sunday, February 12, 2012

meditação no tombadilho

São muitas rotas perdidas
para encontro de novas

canções e surpresas

é preciso perder-se
nesta viagem silenciosa
que o mar impõe


Herculano sabe disso...

por isso
suas mãos crescem
permitem sensações
desconhecidas
na solidão do tombadilho

o menino dorme
adormece na voz
do pai distante

Herculano sabe disso ...

sente medo

do que não sabe
do que não pede
do que não fica
do que não perde

tira do bolso
embalagem azul
sua gaita yamaha

e o pensamento
imponderalvelmente dança
amoldasse ao som
noturno

são gaivotas plainando
na luz prateada da lua
imagem

Herculano sabe disso...

Sunday, February 05, 2012

Lembranças

os olhos voam ao vento
flutuam como maças
mordidas

na boca profunda - a espera
pela segunda dentada

lembranças e pesadelos
asfixiam
como palavras em novelo

tarrafas

os olhos
umedecidos,
bebem lágrimas,
festejam de forma comedida

no riso sorrateiro
do ancião distante

vejo suas mãos poderosas
adornando a bengala
do vício

o fumo da noite
acariciando
paralepípedos
interligados na cor cinza

ainda assim
o asfalto
esconde as pegadas
do menino urbano

e as folhas amareladas
das mangueira seculares
transitam suas perplexidades
no outono das ruas

Saturday, January 21, 2012

casulos


a capa
da asa
oca
na qual o super-homem
se abriga
da casca
ocre
que da sala
sussurra
o riso
(sonho)
do voo
formatado
amanhece
e o susto
noturno
lúdico
do
genoma
escrito,
recluso
soluça
do ovo
tricoteando
mensagens
de
borboletas
azuis,
famintas