Saturday, October 28, 2006

No tempo que Gardan voava...


No tempo que Gardan voava com asas de vento, sopravam sonhos. Viagens que sabiam de velas azúis marinho, garotos afortunados e sem riscos noturnos. Assim era a cidade das mangueiras de bons frutos e campainhas acionadas para o desespero dos moradores das ruas de paralelepípedos. Avenida Generalissímo, Braz de Aguiar, São Jeronimo , Praça Brasil caminhos que conduziam passos leves e risonhos. No tempo que Gardan voava éramos heróis e tinhamos a certeza de nossa eternidade.
Na foto captada em preto e branco, os anjos são azúis em 1965.

Saturday, October 21, 2006

através do furo no escuro

TENTAÇÃO

no amanhã vi
um furo n(o) muro

olharei através do furo
escuro do muro?

futuro

ontem deixei de olhar
o olhar do furo

Sunday, October 15, 2006

a luz na tarde cinza


Através da janela do carro emoldurada tarde cinza surpreende, tece com fios de luz sua serenidade. Não pude resistir e convidei minha imprudência para um clic em movimento, transgressão em ritmo de velocidade. A poesia da foto imaginada e revista em lapso de tempo, tornou-se fato - sensibilidade - desculpem, mas o acaso brindou-me com o sussurro da eternidade.

Vem
Traz o sono leve o sonho breve

(quando todas as portas fecham)

Talvez existam janelas entreabertas
ancoradas em nossas noites

Vem
o campo é santo
e as abelhas passam zumbindo
em busca de flores perfumadas

Mesmo que os sinos soem
anunciando o pouso

Mesmo que seja outono
e as folhas dormitem
antigas ilusões em nosso peito

faz dessas estranhas colméias
o doce abrigo da espera

camas, olhos, caminhos ...

Vem
e beija a superfície d'alma
neste toque delicado de libélula

Tuesday, October 10, 2006

alçando o vôo do prisoneiro liberto


"Há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia ... " um mês antes do acidente com avião da empresa aérea GOL, tive um sonho, que de tão intrigante resolvi logo que acordei relata-lo em um poema- Sincronicidade? Premonição?O fato é que ao relê-lo não pude conter o espanto- as palavras transcendem a razão e oferecem uma oportunidade para reflexão.
AO RELENTO
Ao relento, releio o céu, turbinas e asas voam seus sonhos de espanto
Eles desconhecem o perigo da noite ingênua que consolam os desavisados .

meu quintal queima no calor de fagulhas...

Sinto medo.
Busco saídas enquanto a perna direita arde, o importante
Não é o que a alma desconhece , ainda bem, que passagens estreitas estão atentas ao meu desespero

Percebo e saio
Quero alguém para seduzir meus demônios, repartir meu pão amargo
Subo escadas na intenção de saber notícias, estou atônito

O horizonte esconde palácios esquivos e suposições no vinco de sorrisos incrédulos.

Sigo na contra-mão das barreiras, barricadas, oráculos
Sei que são santuários piratas, mesmo assim, acordo em meu peito vozes do respeito
no olhar do meu pai solene

O mistério segue o curso das simulações, nada é possível saber
Alço o vôo pesado, do prisioneiro liberto

Por que estou ansioso por mortos e feridos?

Saturday, October 07, 2006

Quando o caudaloso rio humano invade as avenidas - chega outubro


Manhã cedo 1959, menino marajoara a galope na máquina do tempo, seguro pelas rédeas da mãe Iêrêcê (assim mesmo, como ela gostava, cheio de acentos). Um, dois, milhares de promesseiros , impressão primeira - digital do dedo polegar - o toque do simbólico.
Quando o caudaloso rio humano invade as avenidas da cidade morena encantada - CHEGA OUTUBRO. Transportam-se mistérios de se(mentes) flutuantes . Assim chegam o mangue, os pássaros, os botos , a alma da floresta - as forças do encantamento povoam as cabeças e as entranhas da serpente humana. São casas, braços, mãos pés descalços, embarcações ribeirinhas navegando em sonhos de miriti. Restos das velas coloridas agora ornamentando punhos e mentes.
"Vóis sois o lírio mimoso ... " enquanto as vozes da emoção envolve os corações, a Santinha segue em sua leveza conduzindo a correnteza da verdadeira esperança - a fé.
MIRITI CÌCLICO

Si o rio
Ri do cio
De si

O Círio
Ri o rir
Do riso ir
Em ci

Certo
Seria
Sermos como grãos
areia

O cicio
De si
rindo o riso
Em mi
(canções)
mas
Si o olho de ci
Olha no olho em mim
Surgem elos

Cera
Corda

Boiúna
no intimo do rio

margens passam
sementes passam

E a mãe do rio enfim amarra
Fitas (im)pulsos
No ritmo,
na correnteza,
da travessia
Em nós